segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Perfis de Filas




Existe muita fila no Brasil, brasileiro gosta de ficar em filas, adora.
      Herança de alguma coisa, sei não......fila de ônibus, de trem, de banco, de restaurante, de cinema, para comprar pipoca, para andar na montanha russa e depois vomitar(desculpem, mas é isso mesmo) para andar no trem fantasma( não chegam os fantasmas que vemos todos os dias - gerente de banco, por exemplo) e ainda vamos nos castigar com fantasmas em parques. Existem filas alegres, rabugentas, esperançosas. Explico. Fila para ir ao cinema, ou para comprar pão quentinho na padaria. Uma porque vamos comer e a outra por que vamos nos divertir. Mas existem as filas rabugentas. Em qualquer cidade grande, são várias, várias; fila de ônibus às seis da tarde; as pessoas viram bichos, se empurram, se socam, o motorista está de mau humor, sobe, sobe, vou arrancar, a senhora pediu pra parar aqui e agora diz que não é, resolve né senhora, (eu sei que aqui é assento para deficiente, mas tô cansada, vou fingir que estou dormindo) ela finge que está dormindo só pra não levantar, “poca” vergonha, em geral são as filas mais mal humoradas, estão todos cansados, estressados, levantaram tão cedinho, moram tão longe,  as estradas ainda são escuras,  andam ligeiros, o medo os espreita, o mal os espreita.  Nas filas de banco, ficam todos em pé aguardando, um homem traz um calhamaço de documentos a serem pagos, nossa como ele demora não, também traz esse montão de cheques pra depositar, a senhora pode passar na frente, essa não, tem lá do lado a fila pra idosos, o nervosismo é geral, nunca vi um caixa tão lerdo, ainda ficam conversando, por ai vai.  Fila para parque de diversões é um pouco mais alegre e muito complicada - como a de restaurantes; a criança derruba por toda a roupa o refrigerante que compraram para aguentar a fila, quer fazer xixi, corre por entre os carros, o pai grita, a mãe grita, gritam entre si, a avó reclama do calor, a fila é imensa, desistem de almoçar, a criança chora , o casal continua discutindo, chegam em casa exaustos, a criança continua chorando, comem o macarrão feito na véspera, a mulher reclama da sogra, culpa de sua mãe não aguenta o calor e quer passear, não mete a minha mãe nessa história, por ai vai.  Na fila para comprar pãozinho de manhã o trajeto é mais simpático a senhorinha conversa com o zelador que também levantou cedinho, não dormiu bem o casal do prédio entrou em atrito, chamaram até a polícia, não melhora a minha artrose, está de amargar, meu intestino não funciona, a senhora tome chá fitoterápico, tem na internet, eu nem sei mexer com isso meu filho, sou  dos velhos tempos!
        As filas da comunhão são as mais caladas, compenetradas, emocionadas. Nela, as pessoas meio que se confraternizam, num de repente permanecem em fila e cedem lugar para os mais velhos, os doentes; existe nessas filas uma enorme vontade de ser bom, justo, compassivo, misericordioso, de se olhar com mais atenção os preceitos divinos, de aguardar o Cristo, Aquele que colocou o homem frente a si mesmo. Na hora da comunhão alguns até levam uma escadinha que é para pedir a Jesus o que eles já têm de divino e não sabem, outros aceitam meias verdades, tem gente que vez em quando empurra, com sua licença, preciso subir na escada senão me perco!  Nessas filas o homem é mais espírito, menos carne, abraçamos  o Jesus da Cruz,  que abraça a moça de colar, que abraça o menino de chupeta, que abraça o vira-lata que entrou na porta  errada; clima fraterno e recolhido, ainda que moralista, desamparado, efêmero, de dúvida ou descrença, depende de cada um de nós, mas já vi esse fenômeno.
        As filas da vida são caminhos da paciência e perseverança; por elas caminhamos, saltamos, voltamos e paramos para descansar da lida; e vale mais o processo do que a chegada.  Sempre.

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