sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Recordando



UNIDOS DA TIJUCA 1999
O DONO DA TERRA

Estamos em 1999 para recordar uma viagem que o Morro do Borel idealizou sobre o mundo fantástico da mitologia indígena! Vamos reviver um pouco deste mundo mágico com deuses, guardiões e mistérios na esperança de que na bagagem de cada viajante não tenha apenas registros fotográficos ou áudio visuais. Mas que fique gravado em cada coração essas mensagens de sabedoria e amor do verdadeiro Filho da Terra.

O nosso indígena é um fazedor de mitos e lendas, este é o maior de seu legado. No imaginário do índio brasileiro, não há uma presença insólita como o cavalo alado dos gregos ou os castelos encantados do imaginário medieval. Aqui, como em toda a América, o imaginário era uma presença constante, um compartilhar cotidiano que tinha como conseqüência direta a criação de mitos e lendas que constituem o que denominamos de "realismo mágico", que nasceu em uma atmosfera e dimensão sobrenatural, sendo considerado a manifestação mais pura e autêntica do universo americano. Hoje, para nossa felicidade, percebemos uma resistência organizada por parte de alguns povos indígenas no sentido de preservar a cultura de seus ancestrais. Todos nós, também podemos lhes prestar assistência, principalmente divulgando e prestigiando seu acervo cultural. Fomos, somos e sempre seremos eternos "Caçadores de Emoções", sem nossos mitos e lendas, com suas maravilhosas fantasias e sonhos a serem realizados, nossa vida seria totalmente sem graça. O mundo através dos mitos e lendas, renasce como uma primavera. O homem é o único herdeiro destas tradições, vivências, ensinamentos e é somente através deles que vencerá seu terror existencial e histórico e, assimilando este aprendizado, se fará merecedor da exuberante e esperançosa primavera que florescerá em seu coração. Hoje, mais do que nunca, as raízes de nosso espírito, leva-nos cada vez mais a indagar sobre as nossas origens.

Nosso índio era dono deste pindorama imenso, ele dispunha a seu talante das águas dos rios, da caça das matas, das praias de areia alvíssimas, onde alegremente colhia a pitanga, o caju e o cardo. Ele que, enfim, na busca da alimentação para a sua sobrevivência, ou na guerra continuada com tribos vizinhas, sentia-se livre e feliz, agora cabisbaixo e triste, caminha quilômetros e quilômetros, para reclamar, seja por intermédio da imprensa ou das autoridades competentes, terras e subsídios com os quais possa obter, com o suor do rosto, o pão de cada dia.

O saudoso Oswaldo Jardim, então carnavalesco da Unidos da Tijuca, mergulhou no rico universo mitológico do índio brasileiro e configurou ao Borel um de seus desfiles mais antológicos, despertando a todos uma saga ao inconsciente coletivo. E como foi deliciosa e fantástica mergulhar nessa fabulosa epopéia que o carnaval permite sonhar. Topamos um imenso rio-mar a cujas águas procederam das lágrimas de Jaci em tristeza por Guaraci. Navegar o rio-mar é contemplar as belezas da vitória-régia; ouvir canto majestoso do Uirapuru, saborear o Mani ao som dos maracás. Reverbera os muiraquitãs sobre os igarapés que adornam os cabelos de Iara.

Vem o boto beijar a face de Boiúna. Brincam sobre as ondas da pororoca as Caités e Catitis, adornadas de esmeraldas. Cobra Norato protege como guardião das águas os exércitos encantados de Anhangá. E sobre as bênçãos de Rudá, o índio celebra suas núpcias com as estrelas. É a riqueza da arte indígena com todos seus mistérios, fascínios e alucinações que fez o Dono da Terra um desfile imortal e um dos mais belos que já vi no Acesso.
Leve, colorido e audacioso, embalados por um samba impecável. Assim foi a Tijuca em 1999. Depois de uma série de desfiles mal sucedidos, Oswaldo Jardim ___ o Rei da Espuma __ imprimia sua marca caracterizando nesta apresentação um desfile sutil, leve como dito acima, e pela qual se diziam bem simples, sem grandes luxos, mas de uma contextualidade impar, fantasias claras, audacioso em decorar com barro um Tatu gigante. E a leitura muito fácil de digerir, pertinente ao enredo; movidos por um samba que considero um poema cantado. Então o resultado não poderia ser outro senão o inquestionável campeonato e a volta triunfante ao Grupo Especial.

Infelizmente Jardim nos deixou há seis anos. Mas o seu legado como artista do carnaval carioca ficou pra sempre imortalizado em imagens como o Dono da Terra. Hoje, a Tijuca se gloria. E Jardim vai saindo de cena silenciosamente. E à proporção que vai saindo, vê o carnaval do futuro. Que carnaval é esse?

Cumprira-se um destino. A história do carnaval desde agora recolhe o nome de um artista para a glória da Pátria do Samba!

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