quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Recordando



PORTELA 1995
GOSTO QUE ME ENROSCO

Não havia música nem dança. No Carnaval, o povo saía às ruas em correrias. As pessoas sujavam-se umas às outras com farinha. Os nobres se trancavam em casa para fugir da galhofa. Era o Entrudo a dona da festa nos carnavais dos séculos XVIII e XIX. O Rio de Janeiro sempre esteve de braços abertos para a alegria. A folia carioca começa no mistérios das máscaras. Foliões colorem as ruas, escondendo-se atrás de disfarces como pai-joão e o doutor-da-mularuça. Nos salões, príncipes, pajens, bailarinas, dominós, arlequins, diabinhos e polichinelos.

No começo do século XX, depois que o prefeito Pereira Passos derrubou boa parte da velha cidade colonial e a transformou numa réplica de Paris, o Rio e o Carnaval "civilizou-se". O entrudo extinguiu-se por completo __ em vez de água e objetos fétidos, as pessoas agora jogavam confete de verdade e serpentina uma nas outras e se esguichavam com lança-perfume, muito mais charmosos. Os novos bondes elétricos se transformavam em carros alegóricos e viajavam carregados de foliões de pé nos bancos e estribos. Em 1900, o Carnaval ganhou a primeira canção de encomenda para a festa, a marcha-rancho "Ó Abre-alas", da pianista e maestrina Chiquinha Gonzaga. E o acaso criou uma tradição que se estenderia por anos: o corso motorizado na recém-inaugurada Avenida Central.
A tradicionalíssima Portela pedia à "corte do samba" que abrissem alas, para a Escola passar, num desfile que ficou na história, entre os grandes carnavais da azul-e-branca de Madureira. O enredo de autoria do carnavalesco José Félix, tratava principalmente da evolução e transformações do carnaval. A canção "Gosto que me enrosco" deu nome ao enredo, servindo de inspiração e foi o fio condutor para recontar a história do carnaval brasileiro. Raiava a manhã de segunda-fera do dia 26 de fevereiro de 1995. Nas primeiras horas do dia, o céu se pintou de azul e branco para fazer cenário a um rio , das mesmas cores, que ia transbordar avenida abaixo... E de fato, desceu. A voz retumbante de Rixa conclamando Madureira e que abrissem alas para a escola de Clara Nunes passar, convidando a todos a se enroscarem na contradança de um dos maiores sambas-enredos da historia da Escola.

A Portela foi a penúltima a desfilar na primeira noite de desfiles, e já com o sol raiando, que por sinal favoreceu bastante no que tange à cromática do desfile, Desfilando luxo e alegria, a escola foi saudada pelo público desde a entrada da comissão de frente, formada por ilustres portelenses: Zeca Pagodinho, Chico Santana, Monarco, Casquinha, Ari do Cavaco, Alberto Lonato, Wilson Moreira, Carioca, Jair do Cavaquinho, Casemiro, Marcos, Edir Gomes, Periquito e Jorge do Violão e apresentada por Tijolo, famoso passista, falecido em 2001. Mais uma vez, a Águia portelense contagiou o público, com uma máscara em azul e branco, trazia um chapéu, que fizeram-na graciosa e imponente, sabiamente confeccionada com material furta-cor, que, sob a emissão dos primeiros raios solares, refletiam variadas cores e tons, dando a impressão de estar acesa. O Samba bastante harmonioso serviu com perfeição à Escola, um conjunto de fantasias e alegorias eram de sumo bom gosto, dando preferência para as cores tradicionais da Escola, o branco e os variados tons de azul. __não é um rio? __ Alas que lembravam todas as principais organizações carnavalescas, em relação à respectivas épocas.

Um desfile irrepreensível, memoravel, emocionante. Destaque ara o carro do bondinho(Rio Antigo), com o Rei Momo ao fundo. O carro do Zé Pereira, com bonecos gigantes. O Luxo também fora uma marca registrada, como nos mostra este belo destaque. Outra Alegoria reproduzia os ícones ou figuras tradicionais do carnaval, como esta, abaixo a Ala dos mascarados. A Velha Guarda também se fez notar, pela tradição e animação, destaque a Paulinho da Viola, ilustre e tradicional torcedor da águia de Osvaldo Cruz. Infelizmente a Portela foi a Vice-Campeã, mas ganhou três Estandarte de Ouro: Melhor Escola, Melhor Samba Enredo e Melhor puxador: Rixxa. O povo conclamou a Escola como campeã, apesar do resultado, portanto, diz-se que foi a campeã moral do carnaval carioca de 1995.

Tanto assim que meu coração deixou as cores de Ramos para se tingir de azul e branco. Amor fulminante. Paixão incontestável e ardente a qual me faz chorar sempre que vejo sua Águia entrando na avenida . E sua Velha-Guarda é a prova cabal de samba se aprende na escola...

2 comentários:

  1. Realmente um dos mais belos desfile que já vi. Nem ligava para carnaval, tinha na época 13 anos e do nada acordei de madrugada e liguei a TV, nossa que espetáculo depois daquele dia virei Portela, acompanhei a apuração, porém tinha na época uma "história" de desfile "técnico". Infelizmente perderam a chance de coroar oficialmente um espetáculo!

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  2. Pois é... Infelizmente era no tempo em que a Imperatriz era absoluta. Hoje é a vez da Beija. Abraços!

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