segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O Visitante

Os sinos da paróquia de Monte Castelo começaram a tocar em horário bastante incomum, pois havia morrido um famoso juiz da região. Era um juiz orgulhoso, muito cheio de si, que não tirava o chapéu para ninguém. Além disso, não era para ninguém, modelo de virtude e de honestidade. Muitas das famílias que lhe caíram nas mãos, foram extorquidas. Tinha quarenta anos, alto, magro, meio curvo, o pescoço desabado sobre o ombro (como um atirador que aponta o alvo), os olhos inquietos e perturbador (como os de um alucinado), que lançava em redor de si um mal-estar, na alma e no corpo.


Era este senhor, um daqueles a quem cristo chamou de sepulcros caiados: por fora moldura caiada de branco, e por dentro podridão e vermes. Fingindo no exterior honestidade, e sendo no íntimo da alma um devasso.


Os sinos tocavam e a notícia se espalhava; na reação dos habitantes da região, não havia lamento. Pelo contrário, em muitos, notava-se uma ponta de júbilo. Por isso, era consenso geral que a alma daquele juiz não tinha salvação. Discutia-se até se ele teria direito a um enterro cristão. Criava-se, assim, a polêmica, e só não se acirrou porque os frades do Convento de Santo Antônio se ofereceram para sepultá-lo, porém, nem por sombras, eles podiam imaginar o que lhes iria acontecer.


Nesse mesmo dia à meia-noite, os franciscanos foram acordados por sonoras batidas na porta do convento e por uma voz que pedia para falar-lhes. Os frades estranharam estar alguém naquele horário a bater na porta, e foram todos para a capela. Quando abriram a porta, um vulto imponente, de olhar vivo e penetrante entrou. Os frades assustados reparam que apesar de estar muito bem vestido, tinha os sapatos grandes e toscos que deixavam os pés um tanto estranho. O visitante dirigiu-se para onde estava sendo velado o juiz e, parando à frente do caixão, levantou a tampa, segurou o corpo amortalhado e fez com que este vomitasse a hóstia que tinha na boca.
— Que é isto?! – perguntou-lhe com espanto um dos frades. – Não lhe tire a hóstia, pois ele era um homem endemoninhado!
— Não é um homem endemoninhado – respondeu o visitante. - É um servo meu!
E nesse ponto o visitante transformou-se num vulto negro e terrível; depois, elevou-se no ar com o corpo do defunto, e saiu por uma janela com um grande estrondo. Os frades correram para a janela, a tempo de ver os dois corpos unirem-se num só e, com uma risada diabólica, voarem rumo ao espaço, deixando atrás de si um medonho cheiro de enxofre queimado.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Recordando



MANGUEIRA 1999
O SÉCULO DO SAMBA


Não havia música nem dança. No Carnaval, o povo saía às ruas em correrias. As pessoas sujavam-se umas às outras com farinha. Os nobres se trancavam em casa para fugir da galhofa. Era o Entrudo a dona da festa nos carnavais dos séculos XVIII e XIX. O Rio de Janeiro sempre esteve de braços abertos para a alegria. A folia carioca começa no mistérios das máscaras. Foliões colorem as ruas, escondendo-se atrás de disfarces como pai-joão e o doutor-da-mularuça. Nos salões, príncipes, pajens, bailarinas, dominós, arlequins, diabinhos e polichinelos.

No comecinho do século XX, depois que o prefeito Pereira Passos derrubou boa parte da velha cidade colonial e a transformou numa réplica de Paris, o Rio e o Carnaval "civilizou-se". O entrudo extinguiu-se por completo __ em vez de água e objetos fétidos, as pessoas agora jogavam confete de verdade e serpentina uma nas outras e se esguichavam com lança-perfume, muito mais charmosos. Os novos bondes elétricos se transformavam em carros alegóricos e viajavam carregados de foliões de pé nos bancos e estribos. Em 1900, o Carnaval ganhou a primeira canção de encomenda para a festa, a marcha-rancho "Ó Abre-alas", da pianista e maestrina Chiquinha Gonzaga. E o acaso criou uma tradição que se estenderia por anos: o corso motorizado na recém-inaugurada Avenida Central.

Agora tente visualizar: uma mini-África enquistada no Rio quase europeu de 1900. O coração desse enclave era a Praça Onze de Junho, nas imediações de onde fica hoje o Sambódromo. Na virada para o século XX, ali era o reduto das "tias" baianas__ uma constelação de negras gordas e despachadas que, ao chegar ao Rio alguns anos antes, vindas da Bahia, logo dominaram o panorama. A mais célebre destas baianas era Tia Ciata, uma mulata cuja influência na cultura do Rio talvez mereça enciclopédias. Na sala de sua casa na Praça Onze, Ciata admistrava seus quinze filhos, os amigos e os convidados, e animava os choros tocados por, entre outros, um garoto de flauta chamado Pixinguinha. Ciosa de seu prestigio, Ciata era amiga de jornalistas. Eles iam aos seus pagodes atraídos pela música e perceberam quando os batuques e cantorias, enriquecidos por flautas, violões, cavaquinhos e uma nova e criativa percussão, começaram a revelar a influência das melodias e harmonias européias. Não por coincidência, algo parecido estava acontecendo na mesma época em Nova Orleans, do que resultaria o jazz. No Rio, era o samba que entrava em trabalho de parto __não mais como um sinônimo de festa na comunidade negra, mas como um novo gênero de música. Era só o que faltava, no bom sentido. Para a música brasileira, o surgimento do samba valeu como a descoberta de um novo continente. Para o Rio, foi como se a cidade tivesse finalmente encontrado sua voz. O primeiro samba a fazer sucesso com a palavra samba impressa no disco, "Pelo Telefone", foi composto __ onde mais? __ na casa de Tia Ciata, por três jovens músicos: Donga, João da Baiana e Heitor dos Prazeres.
Era o Século do Samba. Cem anos da história do carnaval brasileiro que a Mangueira contaria em 1999 __ então final do faustoso século XX __ e assinado por Alexandre Louzada. É natural que diante de tantos fatos e tantos acontecimentos durante o século do samba fossem cuidadosamente esmiuçados para desenvolver este desfile. Não era difícil, pois afinal a própria Mangueira é uma das porta-vozes de todo este registro e dona de um legado de respeito, assim como a Portela, Império Serrano, e outras, claro. Sinopse escrita, barracão brilhando, Louzada confiante, e a Mangueira uma das campeãs de 98 encerraria o século buscando seu bi com chave de ouro. Mas algo sobrenatural aconteceu naquela noite de segunda-feira durante o desfile da verde e rosa. De repente, materializando-se do além para participar da folia e surgindo envoltos a uma penumbra de fumaça, vimos estarrecidos algumas personalidades, baluartes do samba em pessoa, a qual uma geração inteira de sambistas reconheceria com muita intimidade. Zé Pereira? Pierrôs? Colombinas? Laíla? Nada disso __ eram figuras que já haviam nos deixado há muitos anos, mas que, evocados e incorporados na avenida seja lá por que força mística, estavam de volta para despertar uma comoção coletiva que ficou para sempre eternizado em nossos corações. Ora quem não lembra de Candeia, Cartola, Clara Nunes, Clementina de Jesus, Carmem Miranda, Noel Rosa, Natal, Pixinguinha, Sinhô, Donga, João da Baiana, Nelson Cavaquinho, Ismael Silva, Tia Ciata e Mestre Fuleiro? Lá estavam eles de volta na comissão de frente da Mangueira. E por onde passavam eram lágrimas na certa. Um que de sobrenatural. Um misto de saudade, reverência, alegria e orgulho arrebentavam os corações. E quanta lágrima... quantos arrepios! Mas houve um tempo de êxtase __ a qual para mim só se perderia ao orgasmo__ que podemos dizer o supra-sumo desta comissão. Foi no momento em que os "fantasmas" formavam uma roda e no centro dela depositavam todos os pertences dos finados sambistas: como o óculos de Cartola, a cadeira-de-rodas de Candeia, o sax de Pixinguinha __ e todos estendiam os braços sobre eles como que se desincorporando e devolvendo aos céus a alma destes ilustres. Arrepiou?
Mas o encanto acabou. Tudo bem, é falso, é teatro, é fantasia. A caracterização não passa de máscara de silicone e resina. O andar, as danças e os gestos não eram naturais, eram coreografias ensaiadas por Carlinhos de Jesus. Mas nem por isso deixou de comover porque afinal de contas era Carnaval e como sabem toda nossa fantasia é cercada de uma mística alegria e prazer a qual da sentido a Folia. Eles estavam entre nós, mesmos que sejam caracterizados mas o amor que temos as escolas de samba e ao carnaval transcendeu a matéria e caiu fulminante na alma de cada sambista. Tanto que por um momento tudo parecia real. E valia a pena chorar, sorrir, se emocionar, brincar, mesmo que por apenas 80 minutos. Mas foi eternizado para que lembremos sempre destes baluartes a qual fizeram história no século que viveram, o seu século do samba. E é sempre bom recordar , olhando com orgulho para trás, levando a diante o legado que deixaram ao novo século que entrava.

E Feliz ano 2000, um novo século do samba!

Recordando



UNIDOS DA TIJUCA 1999
O DONO DA TERRA

Estamos em 1999 para recordar uma viagem que o Morro do Borel idealizou sobre o mundo fantástico da mitologia indígena! Vamos reviver um pouco deste mundo mágico com deuses, guardiões e mistérios na esperança de que na bagagem de cada viajante não tenha apenas registros fotográficos ou áudio visuais. Mas que fique gravado em cada coração essas mensagens de sabedoria e amor do verdadeiro Filho da Terra.

O nosso indígena é um fazedor de mitos e lendas, este é o maior de seu legado. No imaginário do índio brasileiro, não há uma presença insólita como o cavalo alado dos gregos ou os castelos encantados do imaginário medieval. Aqui, como em toda a América, o imaginário era uma presença constante, um compartilhar cotidiano que tinha como conseqüência direta a criação de mitos e lendas que constituem o que denominamos de "realismo mágico", que nasceu em uma atmosfera e dimensão sobrenatural, sendo considerado a manifestação mais pura e autêntica do universo americano. Hoje, para nossa felicidade, percebemos uma resistência organizada por parte de alguns povos indígenas no sentido de preservar a cultura de seus ancestrais. Todos nós, também podemos lhes prestar assistência, principalmente divulgando e prestigiando seu acervo cultural. Fomos, somos e sempre seremos eternos "Caçadores de Emoções", sem nossos mitos e lendas, com suas maravilhosas fantasias e sonhos a serem realizados, nossa vida seria totalmente sem graça. O mundo através dos mitos e lendas, renasce como uma primavera. O homem é o único herdeiro destas tradições, vivências, ensinamentos e é somente através deles que vencerá seu terror existencial e histórico e, assimilando este aprendizado, se fará merecedor da exuberante e esperançosa primavera que florescerá em seu coração. Hoje, mais do que nunca, as raízes de nosso espírito, leva-nos cada vez mais a indagar sobre as nossas origens.

Nosso índio era dono deste pindorama imenso, ele dispunha a seu talante das águas dos rios, da caça das matas, das praias de areia alvíssimas, onde alegremente colhia a pitanga, o caju e o cardo. Ele que, enfim, na busca da alimentação para a sua sobrevivência, ou na guerra continuada com tribos vizinhas, sentia-se livre e feliz, agora cabisbaixo e triste, caminha quilômetros e quilômetros, para reclamar, seja por intermédio da imprensa ou das autoridades competentes, terras e subsídios com os quais possa obter, com o suor do rosto, o pão de cada dia.

O saudoso Oswaldo Jardim, então carnavalesco da Unidos da Tijuca, mergulhou no rico universo mitológico do índio brasileiro e configurou ao Borel um de seus desfiles mais antológicos, despertando a todos uma saga ao inconsciente coletivo. E como foi deliciosa e fantástica mergulhar nessa fabulosa epopéia que o carnaval permite sonhar. Topamos um imenso rio-mar a cujas águas procederam das lágrimas de Jaci em tristeza por Guaraci. Navegar o rio-mar é contemplar as belezas da vitória-régia; ouvir canto majestoso do Uirapuru, saborear o Mani ao som dos maracás. Reverbera os muiraquitãs sobre os igarapés que adornam os cabelos de Iara.

Vem o boto beijar a face de Boiúna. Brincam sobre as ondas da pororoca as Caités e Catitis, adornadas de esmeraldas. Cobra Norato protege como guardião das águas os exércitos encantados de Anhangá. E sobre as bênçãos de Rudá, o índio celebra suas núpcias com as estrelas. É a riqueza da arte indígena com todos seus mistérios, fascínios e alucinações que fez o Dono da Terra um desfile imortal e um dos mais belos que já vi no Acesso.
Leve, colorido e audacioso, embalados por um samba impecável. Assim foi a Tijuca em 1999. Depois de uma série de desfiles mal sucedidos, Oswaldo Jardim ___ o Rei da Espuma __ imprimia sua marca caracterizando nesta apresentação um desfile sutil, leve como dito acima, e pela qual se diziam bem simples, sem grandes luxos, mas de uma contextualidade impar, fantasias claras, audacioso em decorar com barro um Tatu gigante. E a leitura muito fácil de digerir, pertinente ao enredo; movidos por um samba que considero um poema cantado. Então o resultado não poderia ser outro senão o inquestionável campeonato e a volta triunfante ao Grupo Especial.

Infelizmente Jardim nos deixou há seis anos. Mas o seu legado como artista do carnaval carioca ficou pra sempre imortalizado em imagens como o Dono da Terra. Hoje, a Tijuca se gloria. E Jardim vai saindo de cena silenciosamente. E à proporção que vai saindo, vê o carnaval do futuro. Que carnaval é esse?

Cumprira-se um destino. A história do carnaval desde agora recolhe o nome de um artista para a glória da Pátria do Samba!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Recordando

MOCIDADE INDEPENDENTE 1991

CHUÉ, CHUÁ ÁS ÁGUAS VÃO ROLAR

Voltemos ao ano 1991 mais uma vez para registrar uma grande enxurrada na Marques de Sapucaí.

Temporal? Dilúvio? Sim, tudo isso acontecia de uma só vez, transbordando rua abaixo, desembocando na Apoteose, lavando a alma dos Independentes. E a meteorologia já previa o fenômeno El Renato e La Lílian.

E por falar em chuva, é curioso que cerca de 70% do nosso planeta é composto de água, entre mares, rios, oceanos, lagos e lagoas. Foi pela água que se deu origem a vida terrestre, segundo a Ciência. Nosso primeiro contato com as águas acontece ainda no útero materno, a placenta, na origem de todos os seres e a partir dai ela nos acompanha pelo resto de nossas vidas.

E é água para banhos, água para rituais sagrados, água da chuva que semeia os grãos, água do suor nos êxtases humanos, águas de cheiro, água doces, salgadas, na liquidez das frutas... E diante destas tantas possibilidades de se fazer um carnaval, Renato colocou o óculos, escreveu a sinopse e ás águas rolaram...

A Mocidade Independente de Padre Miguel começou a década de 90 de um jeito fulminante. Após ter revolucionado o carnaval carioca com enredos irreverentes com a assinatura de Fernando Pinto, a escola foi buscar na dupla Renato Lage e Lílian Rabello, ex-alunos e discípulos de Fernando Pamplona, uma nova etapa para seus carnavais. Em 1990, a dupla criou o "Vira, virou, a Mocidade chegou!", conquistando o campeonato. E muito mais que isso, inaugurava-se a Era Renato Lage e a estrela da Vila Vintém, mais verde como nunca, brilhava forte para orgulho da Zona Oeste. E a Mocidade, no ano seguinte, com "Chuê, chuá, as águas vão rolar", deu um banho na Sapucaí e muita água rolou__ e falo de lágrimas também.

A escola de Castor de Andrade entrou na Sapucaí com grito de "campeã" e há fazendo bonito desde sua comissão de frente onde 14 bailarinos simulavam o andar dos mergulhadores no fundo dos oceanos. Logo em seguida, o abre-alas, trazendo seu símbolo maior ___ a estrela__ estilizada como estrela-do-mar, azul e branca, cores aquáticas. Mas o melhor ainda estava por vir logo na segunda alegoria, o que deixou muita gente deslumbrada. O carro "Planeta Água", com a representação do útero materno no formato do planeta Terra. Mas há uma explicação para esta alegoria: Lílian estava grávida e ela e Renato tiveram um insight de incluir a gravidez no tema. Não é um gênio? A estética de deste carro, a proposta inserida e mensagem transmitida fazem desta alegoria, para mim, uma das mais impactantes do carnaval carioca da década de 90.

Se me permitem a licença poética, as águas de Chuê, Chuá serviram de batismo a Mocidade Independente, que iniciava, já em 1990, o seu ciclo de desfiles memoráveis da era Renato Lage o que seria de fato único uma fase áurea e soberana a qual sua estrela reinaria triufante (mesmo não sendo campeã) pelos anos seguintes; mas o que fatalmente acabaria 12 anos depois.

Quando a Mocidade acabou sua apresentação, o sambódromo inteiro aclamava a escola como a campeã daquele carnaval. Foi o ápice criativo da dupla Renato e Lílian. O casamento foi desfeito no ano seguinte, mas o trabalho desenvolvido pelos dois para a Mocidade no carnaval de 1991 foi um dos que mais causou arrepio na passarela do samba.

Um fato louvável a uma era que deixou saudades!

Recordando



PORTELA 1995
GOSTO QUE ME ENROSCO

Não havia música nem dança. No Carnaval, o povo saía às ruas em correrias. As pessoas sujavam-se umas às outras com farinha. Os nobres se trancavam em casa para fugir da galhofa. Era o Entrudo a dona da festa nos carnavais dos séculos XVIII e XIX. O Rio de Janeiro sempre esteve de braços abertos para a alegria. A folia carioca começa no mistérios das máscaras. Foliões colorem as ruas, escondendo-se atrás de disfarces como pai-joão e o doutor-da-mularuça. Nos salões, príncipes, pajens, bailarinas, dominós, arlequins, diabinhos e polichinelos.

No começo do século XX, depois que o prefeito Pereira Passos derrubou boa parte da velha cidade colonial e a transformou numa réplica de Paris, o Rio e o Carnaval "civilizou-se". O entrudo extinguiu-se por completo __ em vez de água e objetos fétidos, as pessoas agora jogavam confete de verdade e serpentina uma nas outras e se esguichavam com lança-perfume, muito mais charmosos. Os novos bondes elétricos se transformavam em carros alegóricos e viajavam carregados de foliões de pé nos bancos e estribos. Em 1900, o Carnaval ganhou a primeira canção de encomenda para a festa, a marcha-rancho "Ó Abre-alas", da pianista e maestrina Chiquinha Gonzaga. E o acaso criou uma tradição que se estenderia por anos: o corso motorizado na recém-inaugurada Avenida Central.
A tradicionalíssima Portela pedia à "corte do samba" que abrissem alas, para a Escola passar, num desfile que ficou na história, entre os grandes carnavais da azul-e-branca de Madureira. O enredo de autoria do carnavalesco José Félix, tratava principalmente da evolução e transformações do carnaval. A canção "Gosto que me enrosco" deu nome ao enredo, servindo de inspiração e foi o fio condutor para recontar a história do carnaval brasileiro. Raiava a manhã de segunda-fera do dia 26 de fevereiro de 1995. Nas primeiras horas do dia, o céu se pintou de azul e branco para fazer cenário a um rio , das mesmas cores, que ia transbordar avenida abaixo... E de fato, desceu. A voz retumbante de Rixa conclamando Madureira e que abrissem alas para a escola de Clara Nunes passar, convidando a todos a se enroscarem na contradança de um dos maiores sambas-enredos da historia da Escola.

A Portela foi a penúltima a desfilar na primeira noite de desfiles, e já com o sol raiando, que por sinal favoreceu bastante no que tange à cromática do desfile, Desfilando luxo e alegria, a escola foi saudada pelo público desde a entrada da comissão de frente, formada por ilustres portelenses: Zeca Pagodinho, Chico Santana, Monarco, Casquinha, Ari do Cavaco, Alberto Lonato, Wilson Moreira, Carioca, Jair do Cavaquinho, Casemiro, Marcos, Edir Gomes, Periquito e Jorge do Violão e apresentada por Tijolo, famoso passista, falecido em 2001. Mais uma vez, a Águia portelense contagiou o público, com uma máscara em azul e branco, trazia um chapéu, que fizeram-na graciosa e imponente, sabiamente confeccionada com material furta-cor, que, sob a emissão dos primeiros raios solares, refletiam variadas cores e tons, dando a impressão de estar acesa. O Samba bastante harmonioso serviu com perfeição à Escola, um conjunto de fantasias e alegorias eram de sumo bom gosto, dando preferência para as cores tradicionais da Escola, o branco e os variados tons de azul. __não é um rio? __ Alas que lembravam todas as principais organizações carnavalescas, em relação à respectivas épocas.

Um desfile irrepreensível, memoravel, emocionante. Destaque ara o carro do bondinho(Rio Antigo), com o Rei Momo ao fundo. O carro do Zé Pereira, com bonecos gigantes. O Luxo também fora uma marca registrada, como nos mostra este belo destaque. Outra Alegoria reproduzia os ícones ou figuras tradicionais do carnaval, como esta, abaixo a Ala dos mascarados. A Velha Guarda também se fez notar, pela tradição e animação, destaque a Paulinho da Viola, ilustre e tradicional torcedor da águia de Osvaldo Cruz. Infelizmente a Portela foi a Vice-Campeã, mas ganhou três Estandarte de Ouro: Melhor Escola, Melhor Samba Enredo e Melhor puxador: Rixxa. O povo conclamou a Escola como campeã, apesar do resultado, portanto, diz-se que foi a campeã moral do carnaval carioca de 1995.

Tanto assim que meu coração deixou as cores de Ramos para se tingir de azul e branco. Amor fulminante. Paixão incontestável e ardente a qual me faz chorar sempre que vejo sua Águia entrando na avenida . E sua Velha-Guarda é a prova cabal de samba se aprende na escola...

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Recordando



BEIJA-FLOR 2001
A SAGA DE AGOTIME_MARIA MINEIRA NAÊ


Enredos que remetem á África e a cultura negra brasileira sempre tem a tendência de serem desfiles memoráveis, com composições antológicas e momentos que marcam a história do carnaval, selado pela emoção.

A Beija-Flor de Nilópolis é uma das grandes escolas carioca a qual se pode dar ao luxo e o orgulho em dizer que fizera muitos enredos afros e alguns deles absolutamente inesquecíveis. Em 1983, portanto um ano antes da abertura do sambódromo, a nilopolitana foi campeã do carnaval com "A Grande Constelação das Estrelas Negras", de Joãozinho Trinta. Em 1988 voltou ao tema afro, talvez pelo centenário da abolição da escravatura, com: "Sou Negro, do Egito a Liberdade". E mais recentemente se tornou campeã , em 2007, com Corte Brasiliana.

Mas antes do campeonato de 2007 ela levaria a Sapucaí uma verdadeira feitiçaria a céu aberto. Um desfile mágico e envolvente a qual ficou para sempre denominado como a sua maior apresentação sobre o tema afro pela qual há décadas sempre fora faustosa. O ano era 2001 e o enredo __A Saga de Agotime: Maria Mineira Naê __ foi assinada pelo concilio de Laíla e seus discípulos. Muito mais que uma bela apresentação plástica e um samba inquestionável, Agotime também levou ao público e a comunidade a história de uma Mística Rainha Africana, Feiticeira e redentora dos cultos Mina-Jeje, no Maranhão. Mas quem era Maria Mineira Naê ou Agotime?
Segundo os relatos da Pajé paraense Zenaide Silva e baseado nas pesquisas que eu fiz para escrever meu livro "O Candomblé para Alento da Identidade" Agotime era uma Rainha em Daomé, como sua capital em Abomey, o reino mais importante da história de Benin e também principal exportador de escravos ao mundo novo, durante os séculos XVI e XVIII. Era um império militar temido por todos os seus vizinhos. Era uma África conturbada (como se é até hoje) de guerras tribais em lutas pelo poder. Na época em que o Brasil era Colônia de Portugal, o reino de Daomé foi invadido pelos colonizadores e Agotime aprisionada como escrava.
A rainha chega ao novo continente em corpo escravo, mas um espírito livre, pronto a cumprir a sua saga e fazer ouvir daqui o som dos tambores jêjes. Seu primeiro destino foi Itaparica, na Bahia. Vinda de uma região onde poucos escravos se destinavam ao Brasil, Agotime se depara com muitos irmãos de cor, mas não de credo. No seu encontro com os Nagôs teve o seu primeiro contato com os orixás e, através deles, a rainha escrava teve conhecimento de seu povo. Por eles soube que sua gente era chamada negros-minas e que tinham sido levados para São Luis do Maranhão. Ao chegar, Agotime percorreu vilarejos, desbravou matas e alojou-se em quilombos em busca do sinal de seu senhor. Um dia cansada, ela sentou-se à beira do rio, notou então que alguém andava pelas margens em sua direção; mesmo na escuridão da noite ela reconheceu seu senhor, Zomadonu. O saudou agora como o seu Vodum e ele, como havia prometido, lhe indicou o caminho à seguir e onde parar, falou-se sobre o local onde deveria ser erguida sua casa para o culto aos reis de Daomé. Agotime perguntou-lhe sobre sua gente, Zomadonu respondeu: Eles virão. E é no Maranhão que Agotime, a escrava, volta a ser Rainha. Sob orientação de seu Vodum funda a "Casa das Minas de São Luis do Maranhão". Após a fundação, Agotime recebeu o nome de "Maria", da região da costa da mina, na África, herdou "Mineira" e de seu Vodum "Naê". Passou então, a Rainha, a chamar-se Maria Mineira Naê.

Esta procissão da Beija-Flor fechou o primeiro dia de desfile levando o público ao delírio com a saga de Agotime. A energia e a vibração do ótimo samba enredo deixaram o público deliciado. Entrou na Sapucaí com o dia amanhecendo e já sob gritos de "É campeã, é campeã!". E saiu da Praça da Apoteose da mesma forma: ovacionada pelo público. Era uma Beija-Flor negra e cheia de rituais de fé, que pediam proteção e paz aos espíritos dos antepassados africanos. À frente da bateria, dois atabaques. No segundo carro da escola, Feitiçaria, todo vermelho e preto, com uma enorme cabeça de bode, estavam acesas velas de verdade.

A comissão de frente era composta por mulheres sacerdotisas de Agotime, que foi simbolizada por uma pantera negra, pois segundo a tradição Vodum, era o animal a que se transformava a Rainha. Com coreografia específica, a fantasia ainda é um dos "posters" mais popular do carnaval, tinha dupla face, ora felina, ora mulher, e muito admirável. Yara Barboza, bailarina da Escola de Dança Maria Odeniva, de 19 anos, representava Agotime na comissão de frente da Beija-Flor. Yara foi convidada por uma colega do corpo de baile para encenar a transformação da sacerdotisa em pantera por ser a única negra no grupo. A transformação era perfeita. Coberta pelas fantasias das outras integrantes da comissão, a rainha se despojava de seu manto real e reaparecia como pantera negra. A fantasia de rainha era retirada por três das componentes da comissão, que não revelaram mais detalhes sobre como a troca era feita. "Só posso dizer que deu muito trabalho", confessou Gislaine Cavalcanti.

Na seqüência uma ala chamava a atenção pela forma que suas integrantes desfilavam: acocoradas, eram as Pretas Velhas, teatralizando este rico personagem do culto afro. Reza a lenda, que nos bastidores da escola, houve intensos e exaustivos ensaios, para que o resultado fosse alcançado, e a ala impressionou. Senhoras que venceram o cansaço físico, da concentração à dispersão desfilando encurvadas. Desfile tecnicamente perfeito. Samba envolvente. Canto e ritmo em sintonia impar. Público ovacionando. Cultura negra das mais envolves. E como toque de magia, pra mim o melhor desfile daquele ano!

Mas é bom lembrar também, só para registro histórico, que no mesmo ano de 2001, exatamente no dia 11 de setembro, o mundo nunca mais seria o mesmo...

Recordando


VILA ISABEL 1988

KIZOMBA, A FESTA DA RAÇA

Na história do Brasil a palavra "liberdade e resistência" aparece em inúmeros episódios de guerras e revoluções. Mas entretanto não com tanta freqüência nas linhas que narram a triste epopéia do negro e a escravidão.

O cativeiro não era apenas vergonhoso: era, antes de tudo, uma indignidade. Emparedados na sufocação da senzala, comendo couve e angu, que fazer? O único pensamento do escravo era a liberdade. Como se a liberdade fosse palavra que pudesse andar em sua boca... Que competia a esses enterrados vivos senão quebrar os grilhões e afrontar a morte? Fugir. No Brasil-Colônia esses parias de Deus inventaram os mocambos. Nasceram os quilombos, que eram a reação mais humana em favor da própria liberdade. Na Serra da Barriga, nos vales de Alagoas, nascera o maior e o mais famoso quilombo que o Brasil já conhecera. O Zumbi Gangazuma, nos Palmares alagoanos, ameaçou as instituições do tempo nos belos covis da Serra da Barriga. Não tolerando mais trabalhos e sangrentos castigos, um negro fugia levando outro vizinho, irmão de igual sorte. Iam para o mato, aquilombavam-se. Com a noticia daquela fuga, outros iam ter com eles. No sossego apreensivo do mato se escondiam agora alguns infelizes. Sem surpresa, aparecia mais gente... iam se amparando, protegendo, com bravura homicida.

A fuga era regresso à vida nativa, das terras da África. O quilombola reabilitava o homem na sua natureza instintiva, recalcada pelos frios preconceitos senhoriais: ali as forças se dilatavam, em explosões da carne indomável. O negro tinha direitos. A pessoa humana se via restabelecida nos direitos da carne, das atitudes, da personalidade. Podiam amar, ser amados, considerar filhos coisa sua e, o que é mais importante __enquadrar a espécie, os descendentes, no clima de liberdade, e sob as bênçãos de Xangô. Mas estas instituições ameaçavam a Coroa e assim como muitos degredados, Palmares recebeu seu jugo e seus habitantes foram dizimados. Mas o líder não se rendera. Antes a morte do que os grilhões. E assim o fez ao dar fim a sua própria vida, encurralado, porém mais Rei do que nunca.

Os portugueses clamava sua vitória sobre Palmares, é certo; mas não conseguiram extinguir a chama da liberdade que se espargiu por mais 200 anos seguintes. Mas liberdade mesmo o negro só gozaria definitivamente e vergonhosamente em 1888. Então, para celebrar e lembrar este centenário em 1988, uma escola de samba carioca evocava Zumbi, na sua Kizomba: a festa da raça.

Mas o que vimos na Sapucaí parecia não ser uma simples festa de carnaval ou um desfile didático contando uma história. A Vila Isabel foi alem de tudo isso. O fenômeno "samba no chão e canto" dava aula de como se fazer uma ESCOLA DE SAMBA NEGRA. Ora, pois pra mim parecia que os próprios quilombolas de Palmares encarnaram-se sobre seus 2500 componentes. Era uma festa da liberdade. Uma garra impressionante. Uma comunidade humilde se inchava de orgulho e eram donos da cena. Uma festa negra de fato. Um acontecimento memorável da história do carnaval carioca dos anos 80. Milton Siqueira, Paulo César Cardoso e Ilvamar Magalhães, idealizadores da festa, resistiram a tantos percalços e finalmente levou a avenida o maior desfile da Vila Isabel. Mas Kizomba foi alem disso. Seu desfile, alem de celebrar a liberdade, devolvia ao negro a sua identidade e resgatava a sua cultura revigorando em nós, brancos sambistas, o nosso orgulho mestiço, por que em nossas veias também corre o sangue do negro. Ainda bem. E num período onde os ecos das Diretas Já ainda se fazia ouvir, onde o Brasil se estreitava com Angola seus laços diplomáticos em tom de perdão, onde a África ainda tentava enxugar as lágrimas do Apartheid, o Rio e a Vila Isabel cantava a liberdade sob a mesma lua que em Luanda prateava seus irmãos de além-mar. E nada mais correto que o carnaval para este momento, pois afinal o negro deu a sua contribuição, senão a maior.

E o que dizer deste samba-enredo? Bem isso eu deixo a vocês, por que parece que qualquer coisa que eu venha a dizer sobre o mesmo parece pequeno diante desta uma obra prima. E assim, citando os versos de Rodolpho, Jonas e do grande nome do samba, Luiz Carlos da Vila, eu apenas agradeço

Valeu, Zumbi!

Recordando



IMPÉRIO SERRANO 2002
ACLAMAÇÃO E COROAÇÃO DO IMPERADOR DA PEDRA DO REINO: ARIANO SUASSUNA

Inúmeras estrelas da arte, do teatro, da música e da TV sempre renderam as escolas de samba carioca bons enredos, bons desfiles, e não raro, as duas coisas juntas.

Desde a fundação da Marques de Sapucaí em 1984 então na gestão de Leonel Brizola, o Rio vira passar pela avenida centenas de personalidades que fizeram e fazem a história. Basta voltar um pouco na linha do tempo e encontramos estrelas musicais como: Braguinha, Elis Regina, Tom Jobim, Bidu Sayão, Poetas como Carlos Drumond de Andrade e Luiz Peixoto. Do teatro e TV como Chico Anysio, Chacrinha, Dercy Gonçalves, Bibi Ferreira, Maria Clara Machado, Nelson Rodrigues, Janete Clair e Silvio Santos. E outros perfis também foram exaltados como Barbosa Lima Sobrinho, Ivo Pitanguy e pessoas pelas quais nunca conhecemos, como Margareth Mee, Tereza de Benguela e Gentileza. Isso porque apontei os memoráveis desfiles do Grupo Especial, imagine os desfiles do Acesso...

Mas alguém ainda faltava para completar este panteão de homenageados; e talvez, quem sabe um grande dramaturgo do "chão rachado"? O sertão do Cariri é uma das mais castigadas zonas da caatinga paraibana pela qual o sertanejo aprendeu a conviver sob uma intensa cultura solar, grassando a fome, a miséria e a morte. O povo que aprendeu comer mandacaru cozido no feijão e a farejar água até por instinto, seu bem mais precioso, também é um forte, como já dizia Euclides da Cunha, em Os Sertões. Tão forte que sobrevive as mais terríveis secas e faz da miséria e da solidão as suas eternas companheiras, mas nem por isso deixou de ser valente, guerreiro e sonhador. E também o sertão não nos da apenas tristezas e desalento. Gera-se também da aridez flores de poetas, dramaturgos, artistas, escritores e reis de toda arte. E um dia a caatinga gerou um tal Ariano!

Ariano Suassuna nasceu na Cidade da Parahyba (hoje João Pessoa) na capital da Paraíba, num dia de Corpus Christi, o que acabou por ocasionar a parada de uma procissão que ocorrera no dia de seu nascimento na frente do palácio do governo do estado. Ariano viveu os primeiros anos de sua vida no Sítio Acauã, no sertão do estado da Paraíba. Aos três anos de idade, Ariano passou por um dos momentos mais complicados de sua vida com o assassinato de seu pai, João Urbano Pessoa de Vasconcellos Suassuna, no Rio de Janeiro, por motivos políticos, durante a Revolução de 1930, o que obrigou sua mãe, Rita de Cássia Vilar, a levar toda a família a morar na cidade de Taperoá, no Cariri paraibano. Ariano Suassuna é um dos mais importantes dramaturgos brasileiros, autor dos célebres Auto da Compadecida e A Pedra do Reino, é um defensor militante da cultura do Nordeste. Ariano foi o idealizador do Movimento Armorial, que tem como objetivo criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste Brasileiro. Tal movimento procura orientar para esse fim todas as formas de expressões artísticas: música, dança, literatura, artes plásticas, teatro, cinema, arquitetura, entre outras expressões.

Então diante de ver tanta contribuição deste forte sertanejo ao teatro brasileiro e por esta longa e gloriosa epopéia do escritor, a Império Serrano em 2002, sob a autoria de Ernesto Nascimento e mais uma comissão, trouxe este importante representante da cultura Nordestina a Sapucai, num desfile memoravel, dignos de Ariano. Era então e estrela que faltava ao esplendoroso limbo acima. E a Pedra do Reino, o gancho que Ernesto usou para desenvolver o desfile a qual batizou: Aclamação e Coroação do Imperador da Pedra do Reino: Ariano Suassuna.

Um desfile ricamente simples, porém com "pé-no-chão", eis as marcas da Império e o traço impar de Ariano a qual, ele e a escola, pareciam uma coisa só. Alias a história de vida da Serrinha e de Ariano parecem se cruzar em determinados momentos e encontramos muitas semelhanças entre eles. Sim, Suassuna sempre foi humilde e nunca renegou suas raizes. Consagrou a Disney como sendo o maior simbolo da imbecilidade do homem. Frequentava as recepções que lhe ofereciam trajando sandálias e gibão de couro. E ao invés de comer caviar e outras porcarias finas, preferia sua carme-seca com farinha regados a uma boa cachaça da terra. Nunca saiu do Brasil. Mas isso também se justifica pelo seu terrivel temor de avião.

E a Império Serrano? Por que é parecida com Ariano pela simplicidade? Ora, basta olhar para a avenida depois de um desfile seu e notarmos que a ela não deixou um rastro de moedas. Mas o peso da tradição que esta escola tem na história do carnaval carioca é que é, de fato, sua maior riqueza. Reduto do Jongo, gerou Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola, Mestre Fuleiro, Dona Ivone Lara, Alfredo Costa e muitos outros... E ao olhar pelas rugas de sua Velha Guarda lembramos com amor e saudade de Aquarela do Brasil, Exaltação a Tiradentes, Bumbum Paticundum e muitos gloriosos desfiles ao longo de seus 62 anos de vida!

É uma respeitavel senhora a qual o carioca tem grande estima e reverencia. E enquanto suas afilhadas se tornaram ricas e poderosas, a Império se manteve assim, simples como São Francisco, na sua humildade de tia velha a qual sempre temos o prazer e o carinho de ir visitar no interior e sermos recebidos com um abraço materno. Não se ofendam, caros Imperianos, porque nem sempre riqueza em desfiles é sinonimo de sifras, ouro e milhões de reais. E basta olhar pela história da Império Serrano e notarmos o quanto ela é milionária e talvez muitos nem se tenham dado conta disso. Tal é a vida da Serrinha, singular, humilde como Ariano, porém com pé no chão, samba no pé e orgulho no peito. É isso que importa.


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Compasso

Sete dias.
Seis noites
Cinco horas,
Quatro quartos de hora
Três meias-horas
Dois minutos
Um segundo...
Nasci!
Sorrindo como criança,
Brinquei com as horas.
E o tempo passou.