sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O Caos Nosso de Cada Dia



Hoje quando os ponteiros
Registrarem vinte e quatro horas
Mil crianças terão morrido de fome
Neste meu belo país
Da bola e do carnaval
Por isso, escrevo poema de sangue.

Muitos guerreiros da dignidade,
Da igualdade
E dos novos valores
Abandonaram as trincheiras
Ou apontam saídas por uma terceira via
Tentando ignorar os gemidos
Mendigos da miséria
Por isso, escrevo poemas de sangue.

Onde estão os poetas que escreviam pelas ruas?
Que recitavam pra lua?
Que dedilhavam as violas?
Pra ver brotar a semente numa semente de roda.
Não adianta negar:
A televisão ditou e muitos obedeceram.
A ilusão agenciou
E quem na onda requebrou
Não pôde ser seresteiro.
Pois descobriram ligeiro
Que a ignorância de um povo
Sempre rende mais dinheiro
Por isso, escrevo poemas de sangue.

Mas se as ervas daninhas
Não conseguem nunca
Dominar toda a plantação,
Há muitas árvores
Que ainda estão produzindo bons frutos.
Pois é desses frutos que alimentaremos
É dessas sementes que replantaremos
Mas eu lhes afirmo
Que ainda é preciso
Por isso, escrevo poemas de sangue.


Santiago Ribeiro

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