quarta-feira, 23 de junho de 2010

Ruas Melancólicas

Todas as cidades as tem em seus mais diversos bairros, e elas, tal qual raízes de amargura e rastros de angústia, se vão multiplicando com o passar dos anos e das gerações. São restos de morbidez, fragmentos amontoados de infelizes instantes, espaços abandonados pelos resquícios de alegria. As insistentes recordações soturnas parecem flutuar em cada palmo de seu chão pisado por saudades. Nelas, até os gatos afogueados e os vira-latas deslumbrados se deprimem e passam correndo com medo do espectro da solidão quase vislumbrado na atmosfera lúgubre. Porque ali respira-se supremo abandono e inusitada velhice evanescente.

Como sorrisos apagados pelas tristezas constantes, as ruas melancólicas nascem denotando flores e, tempos depois, de inexplicável maneira, morrem exalando ervas daninhas. E tudo que nessas ruas outrora fora risos despencou para lágrimas cansadas, olhares esmaecidos, rostos desfigurados pela dor do nada, da insignificância explícita. Os olhos de quem por lá mora, abatidos, escondem tormentos indizíveis, quiçá assombros desconhecidos e misteriosos e sombras amortecidas quando fluem os ocasos desfigurados. Seus dias são de extrema solidão, da qual até a brisa se esconde espavorida deixando a sequidão de um sol em brasa também entregue ao ostracismo; já as noites escurecem desiludidas, transformadas em chagas num corpo doente pelo esquecimento da própria vida.

Há meros sinais de pobres silhuetas desamparadas nas calçadas nuas das ruas melancólicas, vêem-se muros borrados aqui e ali, paredes descascadas se destacam amofinadas em muitas casas insossas, cidadãos riscados do cotidiano lembram estátuas indiferentes aos pombos fazendo sujeiras sobre suas cabeças envelhecidas, tudo é quase um oceano de impropriedades repentinas. A impressão que se tem quando por lá somos obrigados a passar levados pela imprevidência é de um inesperado caos perfeito delineado por incontáveis destemperanças flutuando e surpreendendo. O anseio, por conseguinte, é dali desaparecer o mais rápido possível, desatar as amarras invisíveis a prender-nos e oprimir-nos, voar se condições para tanto houvesse. Permanecer nesse cenário impróprio, ainda que por uns míseros segundos, não é idéia das mais agradáveis.

Quisera não houvesse tais desenganos nas cidades que se deixam abater pelas incongruências de seus habitantes e terminam fenecendo em áreas indefinidas, tornando-se melancólicas ao longo do tempo. Por que elas são forçadas a desaparecer ante o desprezo de seus próprios habitantes ou a indiferença das autoridades responsáveis pela dignidade das cidades? As ruas melancólicas evidenciam-se como grandes feridas logo anacrônicas que jamais saram. Quem nessas artérias vive vai gradualmente morrendo parecendo nunca ter vivido.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

A Cena Cômica



Olá a todos,


Neste pequeno artigo irei detalhar a complexidade em se criar uma cena cômica tanto para uso em esquetes teatrais quanto para uso em apresentações de mágica.
No meio teatral há uma máxima que diz que é muito mais fácil fazer uma pessoa chorar (drama) do que fazer alguém rir (comédia), e isso é inteiramente verdade, pois para fazer alguém chorar é só entrarmos no terreno dramático e puxarmos cenas fortemente emotivas que causem sensações de tristeza, abandono, perda, e isto com certeza causará comoções na platéia, pois são sentimentos inerentes a qualquer um de nós seres humanos. Porém fazer uma pessoa rir é algo difícil, pois há diversos estilos de comédia e o que agrada uma pessoa com certeza não agrada a outra. Muitos artistas pecam em utilizar o exagero para forçar o humor, e isto acaba caindo na pieguice.

São barrigas cênicas desnecessárias que dão a sensação à platéia de que o artista quer forçar o riso, e o que muitas vezes acontece são reações contrárias pondo a perder toda a realização de um espetáculo.

O humor tem que ser muito bem dosado e cuidadosamente colocado dentro de um espetáculo
mágico, pois pode acabar tirando a atenção da platéia do foco principal do artista que é a mágica.
Abaixo colocarei alguns tópicos do uso do humor em cenas teatrais e de mágica, e como deverão ser montados.

Humor cotidiano:É uma forma de humor muito interessante de ser usado e que não permite grandes exageros. O artista ao criar seu esquete usa de elementos do dia-a-dia de todos nós brasileiros e conta uma história levemente engraçada apenas alterando alguns fatos.
Na mágica o artista pode utilizar-se de uma notícia política e usar isso como uma gag, sem exageros, pois pode tornar-se cansativo. O uso desse tipo de humor deve ser apenas um tempero a ser usado dentro de uma rotina mágica ou apenas para dar uma desestressada inicial na platéia.

Uso de piadas e gags: Este é um recurso muito interessante para ser usado em uma apresentação de mágica, porém as piadas devem ser bem selecionadas a faixa etária e ao local onde está sendo apresentado o espetáculo. Tome cuidado com piadas consideradas ultrapassadas, e muito mais cuidado com piadas que caiam no preconceito ou no uso de palavras chulas.

Utilize-se de piadas pequenas e que tenham algo a ver com a rotina que você está apresentando. Se possível crie sua própria piada e treine bastante antes de apresentar. Veja se a mesma agrada as pessoas testando com amigos, família. Um recurso adicional que pode substituir a piada falada é a piada visual, mais conhecida como gag. A gag é um recurso muito interessante se bem utilizada, pois pode enriquecer imensamente uma rotina e tornar seu espetáculo inesquecível, sem precisar utilizar palavras.

Um exemplo de uso de gag em uma rotina mágica é o caso da mágica da coca cola em flores. É uma mágica visualmente bonita, mas que não deixa de ser apenas isto se eu não utilizasse o elemento cômico para realiza-la. O que faço? Simples! Utilizo o simples adereço de um saleiro com buzina.

Quando cubro a coca cola pego o saleiro e dou umas pitadas de sal, e o barulhinho já agrada em
cheio as crianças, mas eu começo a rebolar junto com o barulhinho, e quando finalizo a mágica são aplausos garantidos e o show pode seguir seu rumo normal. Portanto é importante utilizar-se de piadas e gags, porém como disse anteriormente tem que saber quando e como usa-las e em que dosagem, pois se exagerar pode causar estranheza na platéia e conseqüentemente arruinar seu show.

Caricatura:É o estilo de humor no qual o artista imita uma personalidade viva ou morta utilizando-se do exagero e de muitas vezes piadas de mau gosto. Com certeza é um estilo que não recomendo para uso em mágicas a menos que uma determinada rotina exija que o artista se vista como Elvis por exemplo, mas se possível evite, pois geralmente não agrada a platéia e também pode enterrar sua apresentação se não for algo convincente.

Clown ou palhaço:O estilo Clown é muito interessante para ser usado tanto em Teatro quanto em apresentações de mágica, mas requer muito estudo e muita, mas muita dedicação em trabalhos diários de criação de sua personagem Clown. É algo que não pode ser utilizado por alguém que não tenha a base técnica completa. Para adquirir essa base é só procurar por cursos especializados que são ministrados por excelentes professores. Este estilo possibilita infinitas possibilidades de humor na mágica e pode tornar um espetáculo profundamente interessante, agradável, exótico, e muito engraçado, mesmo sem o artista pronunciar uma só palavra pode levar a platéia ao delírio. O palhaço é aquele que vemos nos circos de todo o mundo e embora seja confundido com o estilo Clown, os dois não são a mesma coisa, pois o Clown é algo no estilo Charlie Chaplin, e o palhaço é o estilo Bozo, etc. Não é recomendado ao mágico misturar muito a mágica com a palhaçada, pois isso pode vir a confundir a platéia sobre o tipo de show que veio assistir. Defina bem no seu espetáculo se você é um Mágico que faz palhaçadas ou se é um Palhaço que faz algumas mágicas para que não venha a decepcionar seu público depois. Como foi dito anteriormente para ser palhaço também precisa estudar e treinar muito, e não é algo feito da noite para o dia, pois precisa cursar boas escolas circenses e estar sempre treinando suas gags cênicas e muito também sua parte mágica.

Humor sutil: É aquele que mais recomendo a quem está começando com a magia cômica. É o uso sutil de pequenas tiradas aliadas a rotina. O uso discreto de pequenas piadas ao que se fala uma rotina ou apresenta um efeito pode vir a arrancar muitas risadas, mas isso tem que ser sempre natural, isto é, parecer algo saído de sua boca sem a intenção de ser engraçado, algo não premeditado aos olhos do público, não pode parecer forçado, e muito menos ensaiado. Quando muito bem utilizado esse recurso o show torna-se totalmente agradável a pessoas de diversas idades e diferentes faixas sociais.

Humor exagerado: Ou como muitos dizem: Comédia dos exageros. É o uso intencional de exageros para gerar situações cômicas, sejam elas faladas, gestuais ou mesmo pela ação de uma segunda pessoa (Partner).

É um estilo de humor que agrada muito ao povo de faixas sociais mais baixas, pois se utiliza
palavras de baixo calão, gestos exagerados e muitas vezes até afetados. Não é meu estilo de trabalho, mas com certeza não podemos condenar o artista que utiliza desse recurso, pois o mesmo é válido e agrada a muitas pessoas, mas não é indicada para uso em festas infantis, festas empresariais, ou mesmo locais onde há um nível cultural socialmente mais alto.


Finalizando: Existem outros recursos de humor, mas preferi detalhar alguns mais conhecidos senão este artigo seria infinito. Para todas as formas acima existem alguns pontos que todos devemos evitar em nossas apresentações, são eles:



Uso de barriga: Isto é, deixar a cena sem sentido, tentar forçar uma situação cômica, repetir a
mesma piada duas ou três vezes com o intuito de que riam. Cite a piada uma vez, se riram é
ótimo, se não riram passe para a próxima.


Vácuo: Nunca deixe o espaço cênico vazio se for trocar de aparelho ou buscar algo. Utilize um partner que possa chamar a atenção com sutileza.


Cacos cênicos: Evite sempre que possível utilizar caco em cena. Faça aquilo que foi
ensaiado, pois um caco mal utilizado estraga com certeza uma cena, ou até mesmo um show.
Bom, acho que detalhei aqui o máximo possível sobre o assunto, e espero de coração que seja útil para todos aqueles que o lerem.

Essência

Escrever é algo único.Geralmente escrevemos de acordo com nosso estado de espírito, ou mesmo uma situação que estamos vivendo, ou que estamos vendo.

Escrever pra mim é uma terapia, uma terapia eficaz e barata.
Escrever é colocar no papel a minha própria "essência".

Existem situações que são interpretadas de diversas maneiras.
Nem tudo o que você vê, vejo eu também.

A escrita faz você descobrir certas afinidades, gostos, paixões, as pessoas são aquilo que escrevem, quando escrevem com sua alma.

Minha essência esta aqui, depende de meu estado de espírito, depende de como foi meu dia, minha semana, meu ano...depende da vida que levamos ou do jeito que levamos a vida.

Essência de flores, Jasmins ou rosas, essência de fogo e de trovoes, essência de brisa de seda e do cair do sol, essência de ventania, tempestades, essência de fuga, de descoberta, essência de sorrisos, essência de um choro, ou mesmo essência de morte.

A essência de Deus...é a que eu quero sempre ter, essência da "VIDA".

Alma sem Inspiração





Perdi a maneira de falar do amor, como conduzir uma paixão, deixei de pensar em acontecimentos, não lembro onde escondi minha inspiração.

Perdi a fome de escrever-lhe cartas compridas, minha imaginação não consegue me erguer do chão,lamento,queria muito mais que redenção.

Estou me sentindo como um soldado sem comando, sequer sei qual inimigo devo enfrentar, minha munição acabou, batalhei sem ter alguma devoção.

Estou desencantado com as arestas que plantei em teu coração, nunca ousei cobrar do destino, acho ser ingratidão; falta-me a vocação.

Testemunhei a morte da paixão, também sorri aliviado, claro que disse não, os ouvidos escutam muito mais que a maré, muita conversação.

Testemunhei o rompimento das barreiras de seu coração, ofereci afagos, simples dedicação, mas sua sangria era descabida, nunca fui uma boa solução.

Anabiose da Paixão

Enquanto ergue-se em mim
Um monólito de bem-querência á solidão,
Lá fora a rua é quase calmaria
Pois o rádio ---- ainda que
Ligado ---
Ajuda a compor o quadro
Do augusto mutismo altruísta, sereno,
Sábia atmosfera de reflexão recrudescendo.

Após tantas e tantas esperas
Pela ignescente e fulgurosa
Aurora boreal, sem
Que houvesse uma sequer
Negativa ou positiva resposta,
Apaguei a chama da esperança:
Cerrei-lhe a porta!
Preferi o porto seguro do vácuo
A prosseguir contumaz
Em minhas andanças
De exitoso náufrago.

Porém a voz da minha consciência
Diz que é cedo demais
Para eu relaxar,
Me deixar entregar ao embalo
Dos hartos e meigos braços
Do réquiem do apaziguamento
No mar da expansão engolfado.

A bem da verdade,
Ela me alerta:
Diz a mim que o náufrago
Não se dirigiu ás estâncias
Do reino do Morfeu perpétuo.
Não,
Ela me diz que ele escapou
Das garras do limbo da letargia eterna
No momento em que minha visão-caminho
Singrou o caminho da jóia
Divagativamente
Ametista-Névoa
Que no meu jardim aflorou áquela hora.

Sim, um copo-de-leite roxo
Libertou-me, de novo,
Do cárcere da benfazeja embriaguez voluntária.
Sim, um copo-de-leite roxo foi o suficiente
Para revelar que o crepúsculo
Definitivo da chama, na verdade,
Era o ouropel da morte:
O coma, o coma!

Ah, mais que dolente engodo:
Agora é que descubro
Que meu monólito de bem-querência á solidão
É um dantesco absurdo!